Meus dedos tremem e mal conseguem escrever a verborragia que irrompe no meu peito e às vezes acho que vão me faltar as palavras para descrever o nó sem fim que esses últimos 30 dias foram em minha vida.
Desfiz-me em sorrisos que não eram meus, em festas que não faziam sentido, na fumaça tóxica dos meus muitos cigarros, afoguei-me em incontáveis cervejas e outras drogas na esperança de que, de alguma forma, atenuassem a dor.
Agora, desde que vi seus olhos lindos pela última vez, finalmente deixo as lágrimas correrem face abaixo e permito a entrada da tristeza que represei tão habilmente dentro de mim.
Estou perdido nos acordes e pela batida eletrônica dos anos 90 que dão título a esse texto e que só me fazem lembrar você. Perdido porque, entre uma nota e outra, está escondido, sorrateiro, todo o sentimento que sinto, todo o amor que não foi e a certeza de que eu, sem subterfúgios nem truques, terei que encarar de cabeça erguida a amarga companhia da saudade, mas sem saber que rumo tomar.
Enquanto a música toca, pensei em todos os anos em que não estive com você, mas que me atrevi a imaginar como tinham sido. Imaginei sua inocência quando, na pré-escola, confessou à colega que gostava mais dos meninos do que das meninas, sua timidez e excitação nas baladas da década de 90, a primeira vez que você viu Trainspotting, suas fogueiras no acampamento dos escoteiros e para onde iam seus sonhos e pensamentos enquanto tentava dormir na barraca.
Imaginei como eu gostaria de ter sido seu amigo e companheiro das muitas aventuras que você descreveu e talvez resida aí o maior dos meus devaneios: ousar sonhar um espaço na sua vida que nunca me pertenceu. mas que sempre acalentou minhas fantasias.
Agora, já não no plano dos delírios, voltamos à realidade sabendo que seremos ecos na vida um do outro, ecos esses que o tempo se encarregará de tornar mais desbotados e, com sorte, até indolores. Por isso hoje comecei a árdua tarefa de guardar as fotos na sua pasta para não ter mais que olhar todos os dias, para aceitar que não terei mais seus desejos de boa noite, seus comentários cotidianos, sua voz, seu cheiro e o som da sua risada.
E ao invés de mágoa, meu coração se encheu do mesmo amor pelo menino-homem doce que, sem esforço, me ganhou, soube extrair o melhor de mim e me reinventou todos os dias. Peço então que não acredite em mim quando, por uma auto-defesa mal formulada desse meu coração que mais parece raio e trovão, eu digo que não acredito que foi amor.
Você se diz covarde, mas eu discordo: é preciso coragem para dar os presentes tão lindos que você me deu, como sua doçura, seu cuidado, sua honestidade, seu tempo e seu carinho. E eu não poderia ter tido sorte maior de conhecer alguém que mostrou que o amor é real, possível e se faz perfeito nas imperfeições tão atribuladas das nossas vidas.
Da minha parte guardo ainda algumas lembranças singelas como os ingressos do borboletário que fomos em Belém, o rótulo da cerveja diferente que tomamos, suas fotos 3x4 antigas na carteira. É coisa pouca, mas pra mim eram o relicário precioso desse nosso amor.
E nesse amor que me excede e que me faz fechar os olhos de saudade, só consigo desejar que nenhum medo lhe faça perder essa coisa tão rara que você tem dentro de si: o poder de transformar vidas e construir sonhos lindos, como os que compomos desde aquele nosso primeiro quinze de novembro.
Sigamos amando!